Nessa dança de ciganos, um era a voz outro o batuque. Ela
girava e girava, cantarolava batendo o pé em meio ao chão barroso. Ele
dedilhava seus dedos na viola, encantando os ouvidos admiradores. Jogou a
moeda da sorte para o alto. Cara ou coroa, sim e não, era o destino quem nós
diz, e no chão a moeda se fora. Parou a dança, a euforia, os falatórios, e com
elegância a moça foi a traz do tão perigoso saber.
Deu sim, ou cara depende de como vós encara a vida, mas ela
disse não. Ele sem saber acreditando na certeza da voz que diz, puxou uma nova
canção. Mas dessa vez ela não dançou, não sorriu, e como quem já sabia a
resposta, pois nas cartas já tinha visto o destino tortuoso do moço, foi
decidindo deixar o rapaz sorrir e seguir a vida, até o dia em que o destino lhe
roubasse o tempo e sorrateiramente levasse suas canções.
Ela sabia, caso ele soubesse a resposta, já não viveria e seu
peito arderia como se fosse para o inverno, na ânsia do que o destino lhe
reserva. Uma escolha difícil da cigana, como quem manipula os dias, resolvendo guardar
o segredo dentro de si. Talvez ele descubra antes do tal dia atenuar, pois ele
tinha o dom da visão, mas entre ver-lhe sorrir ou deixar o pranto entristecer,
foi escolhendo ela morrer aos poucos do que velo padecer.
Tauana Raio De Luar
#tauanaraiodeluar